terça-feira, 8 de setembro de 2009

¡Cumpleaños felices!

Querida Vitória,

Acho que já está grandinha o suficiente para ouvir algumas coisas. Incialmente queria esclarecer que, às vezes, tenho muita raiva de você e conto os dias para te abandonar. Acordo sem paciência para freqüentar os mesmos lugares e encontrar com o mesmo amiguinho da ex-namorada da menina que foi da minha sala e conhece minha outra amiga, porque é primo do vizinho dela. Você precisa entender que mesmo te achando muito bonitinha, há muitas falhas no seu conteúdo. Por exemplo, por que só no Metrópolis podem passar filmes bons? E, realmente, não há quase nada além de Triângulo e Lama? Se eu não gostar de Ivete, será que não dá pra ter um pouquinho mais de outros tipos de shows? (sem ser os milhares de covers do teacher's, digo) Até quando eu vou ter que aturar Wesley Sathler?

Como reconheço que tenho uma habilidade especial para ser maniqueísta, investirei no meu lado observadora sensata e tentarei ressaltar os lados positivos da minha ciudad. É injustiça reclamar do fato de Vitória ter uma séria deficiência em ciclos sociais, aliás essa é uma questão de tamanho e é esse tamanho que me possibilita andar bastante a pé, ficar pouco tempo em ônibus e faturar várias caronas. Além disso, quase nunca é problema ir para outros bairros e é muito difícil se sentir deslocada ou excluída em alguma ocasião. Outro aspecto que faz Vix valer a pena é o vento delicioso que bate em Camburi, chamando para velejar! Fora o sol que a deixa linda de morrer, principalmente quando se olha da terceira ponte (chegando de Guarapari).

Não posso me esquecer de que é a cidade que mais deve estimular a criatividade dos cidadãos, até porque a pergunta é sempre a mesma: "que que a gente vai fazer hoje?". Como se não bastasse, é muito bom se sentir incluído e por dentro do que acontece. Se estivéssemos em São Paulo, seria imposível saber quais foram os pricipais churrascos do final de semana, quem ficou com quem, qual rock vai dar mais gente, qual foi fraco, etc. Também não posso reclamar dos capixabas, pois há muitas pessoas aqui a que eu jamais acharei iguais!

Finalmente, amiga, te desejo tudo de melhor. Muita saúde, educação, limpeza, cultura, tranqüilidade e felicidade! Independente de qualquer coisa, foi em você que eu nasci, cresci e me tornei quem sou (para o bem ou para o mal), por isso sempre será minha referência de casa!

Com muuuuuito amor,

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O cinema também é o ópio do povo


Antes de tudo, admito que esse texto tem seus preconceitos, mas há conceitos também.

Está prevista para o início do ano que vem a estréia de "Lula, o filho do Brasil", o filme de 15 milhões reais (arrecadados de empresas privadas - isso lá combina com proletariado?) sobre a trajetória do nosso Presidente. Não há dúvidas de que a vida dele é impressionante o suficiente para ser recontada, nem de que as dificuldades pelas quais passou represente o que acontece com muitos brasileiros. Mas, esse tipo de filme, geralmente, é feito em homenagem a pessoas que já morreram e não a vivas com o orgulho dilatado!

Na verdade, a questão não essa. O que impressiona num filme sobre um presidente vivo e, para piorar, ainda no poder é o fato de ele passar a ser tratado como se fosse mais que um governante. Lula está endeusado, é como um herói.

NADA MAIS IRRITANTE NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS QUE ISSO! Por favor, libertem-se do caudilhismo! Existe aqui a estranha mania de depositar no representante mais que as atribuições de um represente. O que se prefere é que ele seja fonte de esperança, assistencialista, carismático, do povo, exemplo de vida batalhadorasofrida. Aí a gente gosta.

Se for tudo isso, muito bem, sem preblemas. Porém, o preocupante é saber que essas características tão valorizadas são capazes de esconder muitas questões infelizes que possuímos. O que move a democracia é a crítica, o apontamento de erros, a oposição de idéias. Há muita corrupção, demora, ineficácia e inchaço no setor público, por isso ainda não chegamos ao ponto de poder vangloriar ninguém. No mais, se a avaliação geral de tal governo for boa, ótimo, mas isso não significa que esteja tudo certo.

Olha! Me lembrei de que ano que vem haverá eleições! E, se Lula é tão bom, quem ele apoiar deve ser bom também!

Enfim, I have a dream, one day my four children will live num Brasil em que a população vote na esquerda, direita, pra frente ou pra trás, mas que, independente da escolha, se saiba que foi por convicção. Se saiba que o eleitor teve comida, escola. Que ele não vai ligar a TV de imagem ruim, no meio do agreste,e depositar as esperanças num homem de terno que está lá em São Paulo. E o fato de o Lula ser o que é é culpa do tipo de eleitorado que temos, que fica de olhos brilhando quando, pela primeira vez, se identifica com um político. Se é culpa do eleitorado desiludido, é culpa dos que o deixam continuar existindo, dos que deixam um país tão rico arrastar por anos e anos uma situação social vergonhosa. Então não cabe a mim, que tenho I Pod no Sudeste, criticar o populismo como se fosse algo ridículo, incompreensível. O herói Lula, Fernanda, não é o reflexo de uma população burra caudilhista, é o reflexo do que ninguém mudou até agora com o discurso “equilíbrio econômico/minha gestão é técnica/não tenho acessos esquerdistas”.


PS1- Tá, eu sei, o PT também é apoiado pela classe média;
PS2- E eu também acredito no equilíbrio econômico como chave de tudo, mas ele tem um objetivo e não se justifica por si só;
PS3: “Nem o Obama tem filme!” – Laura Porto